É hora de discutir novas fontes de recursos

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Para o economista da 4E consultoria, momento é de estimular funding para financiamento; distratos preocupam mais do que a inadimplência

Por Danilo Vivan

Em 2015, o mercado imobiliário teve a tempestade perfeita. Desemprego e inflação alta, principalmente, contribuíram para um aumento dos distratos – a devolução do imóvel à incorporadora antes que fique pronto. Agora, com previsões ruins também para 2016, é hora de o setor discutir novas fontes de financiamento, já que a caderneta de poupança, principal fonte de funding, vem perdendo recursos. O momento é de garantir que esses instrumentos assegurem um crescimento da oferta de crédito quando houver uma retomada da economia e a demanda por imóveis voltar a crescer.

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A opinião é do economista Bruno Rezende, sócio da 4E, consultoria lançada que tem como um dos outros sócios o economista Juan Jensen, ex-CEO da Tendências e professor do Insper. Confira esta entrevista para a série Perspectivas e desafios do mercado imobiliário em 2016.

Sonho do Primeiro Imóvel (SPI) – De 2004 a 2014, o número de unidades financiadas com recursos da caderneta de poupança cresceu mais de 900%. Agora, com o crédito mais escasso e o número de lançamentos diminuindo, bancos, construtoras e demais agentes do setor discutem saídas para a retomada. O que podemos esperar do mercado imobiliário em 2016?

Bruno Rezende  – Tivemos, em 2015, uma ‘tempestade perfeita’. Além dos desajustes macroeconômicos acumulados nos últimos anos, a queda de investimentos decorrente dos desdobramentos da operação Lava-Jato ajudou a derrubar a atividade no País e desajustar de vez as contas públicas, levando à situação atual de recessão com inflação alta, que deve persistir ainda em 2016. Neste contexto, no qual a alta de desemprego e a destruição do poder real de compra das famílias por si minam a confiança dos agentes e reduzem a procura por imóveis, a alta de juros para e a redução dos porcentuais financiados no crédito imobiliário, observados em 2015, realimentam o ciclo de baixa no segmento.  Se os problemas que travam a demanda por crédito imobiliário são grandes, na ponta da oferta de crédito eles também devem ser considerados. A caderneta de poupança, principal fonte de recursos para o mercado imobiliário, vem perdendo recursos por ser, como investimento, um produto muito pouco competitivo comparado a outros, como as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), que são títulos públicos pós-fixados vendidos pelo Tesouro Direto, que pagam taxas muito próximas à Selic, hoje em 14,25% ao ano, rendimento bastante superior aos 7,5% entregues pela poupança, mesmo considerando este segundo é isento de Imposto de Renda. Para se ter uma ideia, de janeiro a outubro os saques superaram os depósitos em R$ 19,1 bilhões, o que levanta sinal amarelo e força o setor a buscar outras fontes de captação.

SPI – Como veem, então, a utilização de fundings alternativos, como os CRIs, LCIs e a recém criada Letra Imobiliária Garantida (LIG), por exemplo?

Rezende – Esses papéis ainda constituem uma parcela menor dos recursos destinados ao setor, mas há uma tendência consistente de crescimento. Trata-se de uma questão geral da economia brasileira, e não apenas do setor imobiliário, a da necessidade cada vez maior de financiamento privado, já que fontes governamentais, como o BNDES, estão esgotadas; o mesmo ocorre com o agronegócio e a indústria, por exemplo. Mas uma parcela dos poupadores que estão abrindo mão da caderneta de poupança em consequência de seus baixos rendimentos está migrando para essas fontes.

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“É importante olhar desde já para as fontes alternativas de funding, pois, quando houver uma retomada, a questão da oferta do crédito pode se tornar um limitador para o crescimento do mercado”

SPI – A inadimplência da carteira começa a preocupar, apesar de historicamente ser  mais baixa do que as outras modalidades de crédito do Sistema Financeiro?

Rezende – A principal questão, neste momento, não é a inadimplência; são os distratos, a devolução de um imóvel à incorporadora antes da entrega, que ocorre, normalmente, quando o comprador não tem capacidade de pagamento ou, no caso de um investidor em imóveis, quando não consegue vender o imóvel. O aumento dos distratos pressiona os estoques, o que, por sua vez reforça a crise. No primeiro semestre de 2015, esse índice foi cerca de 25% superior ao do mesmo período de 2014, o que dá uma ideia da gravidade da situação.

“A principal questão, neste momento, não é a inadimplência; é o aumento dos distratos, que pressiona os estoques e reforça a crise”

SPI – Nos últimos anos foram introduzidas importantes medidas na legislação que trata do crédito imobiliário e que também contribuíram para o crescimento observado. Ainda  existe algum aprimoramento a ser aplicado ou o crescimento será retomado tão logo a estabilidade econômica volte?

Rezende – A principal questão é, mesmo, de ordem política e econômica. Quando houver menos incerteza em relação a esses dois aspectos, o mercado deverá voltar a crescer. Mas, se houver aprimoramentos na legislação, consideramos importante que seja pelo aspecto da oferta, ou seja, dos títulos que irão suprir a questão do funding ante à queda do volume de recursos da caderneta de poupança. É importante olhar desde já para esse aspecto, já que, quando houver uma retomada, a questão da oferta do crédito pode se tornar um limitador para o crescimento do mercado.

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