No Sul do País, agronegócio ajuda a minimizar a crise imobiliária

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Construtoras ajustam estoques, mas ganhos das cooperativas agrícolas ajudam a capitalizar região, beneficiando investidores em imóveis

Por Danilo Vivan

O mercado imobiliário na região Sul passa, como todo o País, por um ajuste: as construtoras e incorporadoras têm feito um enorme esforço para reduzir seus estoques diante de um cenário de alta dos juros.

Jefferson Gomes da Cunha

Presidente em exercício da(Ademi-PR), Jefferson Gomes da Cunha

A região, por outro lado, vem sendo beneficiada pela crise. A alta do dólar tem empurrado os ganhos com as exportações do agronegócio, injetando uma dose considerável de recursos nas cidades do Interior. Com mais dinheiro, os associados das grandes cooperativas agrícolas tendem a ir às compras no mercado imobiliário. Esse cenário, descrito pelo presidente em exercício da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Paraná (Ademi-PR), Jefferson Gomes da Cunha, deve continuar em 2016. Confira em mais uma entrevista da série Perspectivas e desafios do mercado imobiliário em 2016:

Sonho do Primeiro Imóvel (SPI) – Qual foi o comportamento do mercado imobiliário de Curitiba e região em 2015?

Jefferson Gomes da Cunha –  De modo geral, em 2015, o mercado de lançamentos imobiliários em Curitiba ajustou-se ao novo cenário econômico nacional. O que percebemos é a redução do número de unidades em estoque e uma adequação no perfil dos novos lançamentos pelas construtoras e incorporadoras, com menos unidades por empreendimento, com vistas a equilibrar a relação entre a oferta e a demanda. A expectativa é que em 2015 a disponibilidade média de apartamentos residenciais novos em Curitiba para comercialização diminua de 30% para 25%, patamar que consideramos ideal e equivalente a cerca de um ano de vendas.

“A economia da Região Sul é influenciada pelo agronegócio. As cidades do Interior vêm registrando saldo positivo de empregos devido à dinâmica agroindustrial, apoiada pela alta do dólar. Tal fato deverá gerar crescimento do PIB do setor, disponibilizando recursos para cooperados, tradicionais investidores em ativos imobiliários”

SPI – Qual o comportamento nas cidades do Interior do Estado?

Cunha –  O cenário do setor de lançamentos imobiliários nos principais municípios do Interior do Paraná é semelhante ao da capital paranaense – ajuste entre oferta e demanda, com equalização do estoque, mantendo-se a valorização – embora com menor intensidade em função do tamanho de mercado e do processo recente de verticalização residencial nessas regiões. Os empreendimentos econômicos, enquadrados no Minha Casa Minha Vida, com valor até R$ 145 mil, e os de padrão standard, com preço de R$ 145.001,00 a R$ 400 mil, lideram a oferta de imóveis lançados nesses municípios, mas já começa a ser significativa a presença de edifícios com padrões médio, alto e até de luxo, o que não era comum, e com boa absorção no mercado. Além disso, essas cidades, assim como a Região Metropolitana de Curitiba, têm se tornado bastante atrativas para o lançamento de condomínios horizontais, tanto para empreendimentos dentro do Minha Casa Minha Vida, quanto de médio e alto padrão.

SPI – O que esperar para 2016 nessas cidades?

Cunha – Esse cenário de estabilização da oferta e demanda de novos na em Curitiba, aliado às indefinições políticas e econômicas que se perpetuaram no País nesse ano e pressionaram o represamento dos investimentos por parte dos incorporadores, sugere a constituição de um ambiente favorável para o aporte em novos empreendimentos. Quanto antes essas questões nacionais forem equacionadas, mais rápido esse cenário deve se concretizar. Numa previsão otimista, acreditamos que isso deve acontecer até o primeiro semestre deste ano, com incremento no número de lançamentos em relação a 2015. Caso contrário, a tendência é que, mesmo com os projetos aprovados, os empresários retardem esses investimentos. Essa situação tende a se repetir nos municípios do Interior, em menor intensidade, em função do tamanho de mercado. Já quanto aos preços, de modo geral, verifica-se que os novos empreendimentos estão sendo lançados a preços maiores do que os edifícios com unidades prontas para morar, o que deve se intensificar a partir do próximo ano. Isso se justifica pelo aumento dos custos dos insumos da construção, que tem reflexo imediato com a alta do dólar, o crescimento dos custos de energia elétrica e da carga tributária.

SPI – A região Sul possui alguma particularidade que faça com que a recuperação seja mais rápida ou mais lenta que nas demais?

Cunha – A economia da Região Sul é fortemente influenciada pelo agronegócio. As principais cidades do interior do Paraná registraram no primeiro semestre saldo líquido positivo na geração de empregos, devido à dinâmica da atividade agroindustrial, apoiada pela alta do dólar. Acreditamos que tal fato irá gerar crescimento do PIB do setor, transferindo riqueza para o Interior e disponibilizando recursos para cooperados, que são tradicionais investidores em ativos imobiliários na capital, interior e litoral, amortizando os impactos da atual conjuntura econômica para o setor. Acreditamos ainda numa aceleração da produção industrial no ano que vem, com aumento das exportações via Brasil, que devem reverter o cenário atual. Existe, ainda, a intenção de aumento dos investimentos pelos empreendedores: um em cada quatro empresários da construção civil pretende investir mais hoje do que no passado. O horizonte tende a ser otimista no Interior da Região Sul.

SPI – Em termos de padrão de imóveis, quais os que devem sofrer mais ou menos com a crise em 2016?

Cunha– O movimento de ajuste continuará a ser mais voltado para os imóveis do padrão standard (com preço de R$ 250 mil a R$ 400 mil) para o quais as condições de aquisição do imóvel estão sendo flexibilizadas, inclusive com financiamento direto por algumas construtoras e incorporadoras. Já para o segmento de luxo, que compreende os apartamentos com preço superior a R$ 1 milhão, o cenário é de estabilidade. A recente elevação do teto para os imóveis dentro do Minha Casa Minha Vida também deve estimular o lançamento de imóveis econômicos, especialmente na Região Metropolitana de Curitiba, neste ano. Por isso, para quem dispõe de recursos para a compra da casa própria, esse é um ótimo momento para fazê-lo. Quem esperar, vai acabar pagando mais pelo mesmo imóvel.

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